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03/04/2023

Rita & Bob

Bob Marley faria 75 anos em 2020, mais precisamente no dia 6 de fevereiro. E, para honrar a obra e o legado do gigante da música jamaicana, a editora Belas Letras lançou a nova edição brasileira do livro No Woman No Cry, assinado por Rita Marley, viúva do astro. Um acréscimo de peso para o catálogo musical da editora.

A obra chega ao mercado nacional com a tradução original (de 2004), de Daniel Pellizzari, mas ganhou uma nova revisão, além da capa e do projeto gráfico totalmente reformulados, com a assinatura de Tereza Bettinardi e Lucas Jatobá.

Se você acha que o sobrenome Marley pode significar uma biografia chapa-branca, think again. Rita consegue alcançar um equilíbrio raramente visto: demonstra respeito e amor, mas sem deixar de tocar nas feridas. Não teve uma vida fácil ao lado do astro do reggae, repleta de perreios, provações e até mesmo riscos à integridade física (o relato sobre o atentado a tiros sofrido em 1976 é impressionante e assustador). Todavia, acompanhou da posição mais privilegiada toda a trajetória do (possivelmente) primeiro artista do Terceiro Mundo a ser reconhecido internacionalmente.

Saindo da condição de editor do livro e flertando por um minuto com o papel de crítico, eu diria que No Woman No Cry é sustentado por um tripé temático envolvendo as diferentes manifestações do relacionamento de Rita com Bob. Em primeiro lugar, obviamente, o relacionamento amoroso, que começou no portão da casa da tia de Rita, em Trench Town, quando ela tinha dezenove anos, e perdurou até a morte de Bob, em 1981. O segundo eixo seria o musical, não apenas descrevendo o sucesso do marido, mas participando ativamente desse processo, como integrante do grupo de apoio vocal dos Wailers. A música está lá, em cada página do livro. E, por último, o relacionamento que podemos descrever, porcamente, como “business”: era ela quem pedalava pelas ruas de Kingston vendendo os compactos de Bob Marley, muito antes do sucesso mundial, e também foi ela quem tomou as rédeas do legado musical do marido, inclusive nos tribunais. Isso pra não mencionar a Fundação Bob Marley, que ela mantém até hoje.

Já escrevi além do que imaginava, e paro por aqui antes de cometer mais um spoiler. Espero que você possa se emocionar com essa história do mesmo modo que eu me emocionei enquanto trabalhava na edição do livro. Boa leitura.

 

Marcelo Viegas

Editor de livros (e revistas), cientista social, skatista, vocalista da banda 93 Foundation e pai do Milo. Já fez zines, teve selo musical (sHort records) e loja de discos.