Quem segura sua mão na Big Tower da vida?
Na maioria das cidades aqui do Rio Grande do Sul era tradição as escolas públicas levarem os alunos do último ano do Ensino Fundamental (9º ano, antiga 8ª série) para um passeio no parque de diversões Beto Carrero World – localizado em Penha/SC. O passeio normalmente ocorria em novembro, era uma viagem de despedida antes da formatura e ida para o ensino médio. A maioria dos alunos partilhava a mesma turma há 9 anos, desde a pré-escola.
Você consegue imaginar a ansiedade já quando as aulas começavam naquele último ano? Absolutamente tudo girava ao redor da viagem para o Beto! O esquema era mais ou menos isso:
Notas boas = posso ir ao Beto
Não faltar nenhum dia = posso ir ao Beto
Ajudar os pais com a limpeza da casa = posso ir ao Beto (e ainda ganho um dinheiro)
O meu último ano foi em 2006. Me certifiquei de já estar aprovada no segundo trimestre e de cumprir o restante da lista de tarefas para não arriscar 😉
Três anos antes da minha ida, o parque construiu a Big Tower, que na época era o brinquedo com a maior queda livre da América Latina. Desde que a construção havia sido feita, nós já sonhávamos com o dia – dentro de 3 anos – em que seríamos nós a desbravar a temida torre. Alguns dados interessantes: ela possui 100 metros de altura (equivalente a um prédio de 30 andares) e a queda livre ocorre a 120km/h. Dá uma olhadinha no “monstro”:
Novembro finalmente chegou e a mala estava pronta com uma antecedência recorde. Combinamos quem iria no ônibus com quem, filmes, lanches, músicas e tudo mais. Nossa despedida seria épica! Chegamos ao parque e fomos correndo (não é exagero, correndo mesmo, de quase tropeçar) para a Big Tower. Ela seria nosso brinquedo de abertura, pois havíamos sonhado com aquilo nos últimos anos. Chegamos em frente à Torre. Olhei ela. Ela me olhou, imponente, majestosa. Olhei para os meus amigos com toda a maturidade que meus 15 anos recém feitos me permitiram e disse: “EU NÃO VOU”. E não vou. E não tem negociação. Depois de uma conversa que pareceu uma sessão de terapia, combinamos que eu iria, contanto que eu fosse no meio e eles segurassem as minhas mãos. Detalhe: o meio é a posição que passa mais segurança, pois quem senta nas pontas só pode segurar uma mão e quem está no meio pode segurar duas.
Fomos para a fila quase vazia (mais pessoas tiveram o mesmo “ato de bravura” que eu) e em poucos minutos eu estava sentada no meio dos meus melhores amigos, com a sensação de que o fato de darmos as mãos me protegeria de uma queda livre caso algo desse muito errado. O brinquedo de 4 faces subiu e tivemos a sorte de ir com a vista para o mar. Nos poucos segundos em que ela fica no topo, pude ter uma vista linda e, embora o medo ainda estivesse lá, eu estava amparada pelos meus melhores amigos. A queda livre aconteceu em 3 segundos e a vitória/experiência permanece até hoje.
Hoje, com o dobro da idade daquela vez, percebo que a vida é uma grande Big Tower! Às vezes assusta, impõe, faz a gente querer desistir. Estamos atravessando uma pandemia e cada um individualmente tem seus próprios desafios. O medo nem sempre some e a gente se sente pequeno olhando para as situações. Porém, faz uma diferença enorme saber que temos pessoas para segurar a nossa mão e nos ajudar a transpor obstáculos 💜
Amanhã, dia 20/07, comemoramos o Dia do Amigo. Que você possa ter pessoas que seguram sua mão e ser uma pessoa que segura a mão de outros, mesmo que nesse momento seja virtualmente 🤝
Quer ler mais relatos sobre amizade? Dá uma espiada no nosso livro Carta para meu jovem eu.
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