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03/04/2023

Que tal expandir a ilha?

Quando ia a São Paulo (antes da pandemia), fazia questão de acompanhar uma sessão do planetário do parque do Ibirapuera. A cadeira reclinava, as luzes apagavam e, pelos próximos 60 minutos, começava uma viagem incrível por um universo de estrelas, constelações, planetas e galáxias. Lembro que nos primeiros instantes da sessão o céu era nebuloso, meio apagado, para imitar a maneira como o enxergamos na cidade com a interferência das luzes artificiais e da atmosfera terrestre. Mas, com a ajuda da tecnologia, aquilo tomava outra forma, ganhava nitidez, como quando um míope coloca óculos. E logo os projetores exibiam um céu cheio de pontos prateados brilhantes, como se realmente estivéssemos no cosmos, e uma história começava a ser contada. Na saída, era difícil encontrar alguém que não estivesse sorridente, criança ou adulto, radiante pela beleza do espetáculo.

Aqui na Belas Letras, no dia ou época do nosso aniversário, somos desafiados a experimentar algo novo. Para este ano, decidi tentar entender um pouquinho mais deste universo chamado Astronomia, ir além da admiração. Ciente, é claro, de que o assunto é riquíssimo e complexo. Para concretizar esse desafio, após algumas pesquisas, encontrei um curso que se encaixava com o meu perfil de pessoa leiga no assunto. Para não permanecer apenas na teoria, procurei ao mesmo tempo observar o céu por algumas noites. Já na primeira aula, aprendi uma lição importante. Antes de explorar o céu com binóculos, telescópios ou outros instrumentos, é preciso entender o que se enxerga a olho nu. Do contrário, o telescópio vira empolgação e, após pouco uso, acaba empoeirado em um canto, resultado de uma compra por impulso.

Também na primeira aula, conheci o Stellarium, um software livre que mapeia o céu em tempo real, de acordo com cada cidade. Na ocasião, a noite estava bonita, com céu sem nuvens, e pude observar bem lá fora. De fato: havia uma estrela muito brilhante, bem maior do que as estrelas vizinhas. Após conferir com o Stellarium, percebi que era Júpiter, e que Saturno estava muito próximo. Em outras noites, o tempo não colaborou, e a observação não pôde acontecer. No entanto, foi muito interessante olhar e entender – além de admirar.

Ao longo do curso e de outras pesquisas, aprendi um pouco mais sobre o sistema solar, sobre latitudes, longitudes, sobre a assombrosa velocidade da luz, sobre as infinitas possibilidades do universo... Quanto assunto existe a ser explorado no cosmos! É um aprendizado que não tem fim e que exemplifica bem o quanto precisamos estudar, não importa se somos iniciantes ou especialistas em algo.

Como diz o físico Marcelo Gleiser, cientista que consegue traduzir assuntos muito complexos ao público não especializado – e que por sinal está com um curso incrível e gratuito em seu canal no YouTube todas as sextas-feiras, às 18h, o Física para poetas –, nosso conhecimento é como uma ilha e o que não conhecemos é como o oceano. Quanto mais ampliamos nossa ilha, mais conhecimento adquirimos, mas também mais distantes ficamos do oceano, porque não há limites para o desconhecido.

Vamos expandir nossas ilhas?

OBS: Registro aqui meu agradecimento maior que Júpiter à equipe do canal do YouTube Astrofísica para todos, pelo conteúdo extremamente acessível e didático, e ao Marcelo Gleiser, que já era fonte de inspiração com seus livros e que tem feito um trabalho de divulgação científica mais brilhante do que Vênus.