Os Olhos do Furacão - Por Henrique Guerra
Texto por Henrique Guerra
A idade não pesa nos ombros de Sir Paul. O brilho no olhar, o espírito empreendedor, a avidez por realizar coisas novas, o talento para criar produtos de qualidade: tudo que vem dele vem com um sopro de juventude.
Na parte musical, nem se fala. Em dezembro de 2020, lançou o álbum inédito McCartney III. Em abril de 2022, voltou aos palcos com a turnê Got Back, que deve vir ao Brasil em novembro de 2023.
Mas, além disso, de uns tempos para cá, Paul tem brindado os fãs com livros. Em novembro de 2021, numa iniciativa ousada, a Belas Letras publicou As Letras, lançamento mundial de uma obra inigualável em estética e conteúdo.
E agora em 2023 o bardo volta à carga, desta vez com Os olhos do furacão, um livro de fotografias que ele tirou em 1963 e 1964, um período mágico na trajetória dos Beatles. Ele afirma que não deseja passar a ideia de ser um exímio fotógrafo, e sim compartilhar com os fãs instantâneos inéditos capturados no turbilhão da Beatlemania.
Além do valor intrínseco das fotos, algumas delas fantásticas pela singeleza com que fixaram momentos de trabalho e lazer do quarteto liverpudliano e da consistente equipe que os acompanhava, Os olhos do furacão traz textos do próprio Paul com revelações e pensamentos sobre o efervescente período.
O baixista mais famoso do mundo escolheu a dedo alguns convidados para colaborarem no livro, mas o destaque é Jill Lepore. A historiadora autora de best-sellers se debruçou no assunto e criou um texto icônico, repleto de referências, citações, duplos sentidos, jogos de palavras – e de sentimentos.
Traduzir é conviver, como dizia Guimarães Rosa, traduzir é cachaça, como dizia Lobato, mas traduzir também é a alegria de ser desafiado. E o texto de Jill Lepore é pra lá de desafiador. Só o time editorial liderado pela dupla G² (Germano e Gilvan) sabe o quanto.
Polifônico, o texto de Jill Lepore entremeia fragmentos de entrevistas dos Beatles com os fatos históricos, lançando luzes sobre temas palpitantes da época, como o assassinato de Kennedy e a luta pelos direitos civis.
Os olhos do furacão é um livro para ser degustado com calma, folha por folha, legenda por legenda, imagem por imagem, palavra por palavra... E o leitor que mergulhar no vórtice desse torvelinho sairá do outro lado desse furacão vendo o mundo com outros olhos.
Henrique Guerra: Em 1987, assistiu aos dois shows do The Cure no Gigantinho. Pelas Belas Letras, traduziu as obras AC/DC: álbum por álbum, de Martin Popoff; As Letras, de Paul McCartney e Paul Muldoon; Tune In: todos esses anos, de Mark Lewisohn, com tradução de Fernando Scoczynski Filho, e Os olhos do furacão, de Paul McCartney e Jill Lepore.