O dia em que entrei numa fria
Aqui na Belas Letras o dia do aniversário é dia de viver algo pela primeira vez e depois compartilhar!
No dia 05 de junho completei meus 27 anos entrando numa fria (literalmente)!
Já que sou uma paulista morando em terras catarinenses revolvi fazer uma aventura congelante por terras gaúchas (berço dessa incrível nave mãe que vocês conhecem por Belas Letras)!
Como a pandemia não nos permite festejar como estamos acostumamos, resolvi fazer algo diferente para comemorar mais um ano de vida. Aluguei um chalezinho no meio do mato de uma das cidades mais lindas e mais conhecidas na serra gaúcha pelo lindo e belo inverno, chamada Gramado. Com muitos quilos e camadas de roupa, quase sem conseguir subir na moto, a minha aventura se iniciou dois dias antes. Às 03:00 a.m. do dia 03/06 parti para a minha jornada.
Com uma calça segunda pele, a calça Jeans mais grossa que tenho, uma meia calça, uma meia grossa de algodão, uma bota de cano alto de couro, uma blusa segunda pele, uma blusa de lã, uma jaqueta de couro, uma jaqueta com proteção pra moto, cachecol, luva, máscara, capacete, dois baús laterais e um traseiro (um com roupas quentinhas, outro com comida, muito álcool 70 e outro com ferramentas de primeiros socorros da motoca), depois de várias tentativas mal sucedidas, consegui subir na moto. Aí a aventura se inicia!
Saindo às 03:00 da manhã com muito frio, escuridão e neblina por dentro do Estado, resolvi passar por Urubici, em Santa Catarina, e visitar a Cachoeira do Avencal.
Chegando lá, para a ver a famosa cachoeira precisei encarar uma plataforma com chão de vidro que fica a apenas 101,4 metros do chão.
A sensação de medo (beirando a desespero), com a minha labirintite perto de me dar uma crise, aliada a sensação de encantamento e superação, quase fez meu coração pular pra fora da plataforma!
Depois dessa aventura, segui viagem pela famosa Serra do Corvo Branco. Intimidadora com suas enormes paredes e seu caminho estreito, escorregadio e sinuoso, chegando a 915m acima do nível do mar e que quase me levou dessa para uma melhor, depois de levar um escorregão com a moto na beira do precipício (é, essa parte da aventura eu não consegui registrar, mal conseguia me segurar na moto, mas acredite, ela existiu, não morri caindo do precipício, mas quase morri de um ataque cardíaco). Moto levantada, viagem que segue.
Na tarde do dia 03/05 cheguei ao litoral gaúcho, mais especificamente à Torres, que dizem ser a praia gaúcha mais bela. Tomei um banho quente, comi um lanchinho e fui dormir pra me recuperar desse primeiro e longo dia de aventura (juro que dei vários pulinhos à noite sonhando que estava caindo).
Na manhã seguinte fui conhecer a Vista de Furnas. Linda, bela, magnífica e chegando a 65 metros de altura! E mais uma vez meu coração quase pula precipício abaixo (e detalhe, no início da trilha, o mar avançou e molhou minha botinha), mas o som do mar e vista de tirar o fôlego fez cada mini infarto valer a pena, veja por si só:
Botinha molhada, viagem que segue! Agora para o destino final, Gramado! Passei pelo lindo caminho da Rota do Sol, com 2 túneis circulando a serra e uma vista magnífica por 7 viadutos a 750 m. Medo de altura vencido, entrei numa fria!
Quando cheguei em Gramado, desbravei a neblina e encontrei o chalezinho lindo e aconchegante no meio do mato! Depois de descarregar a moto, fui ao mercadinho próximo, comprei mantimentos, desinfetei e pude descansar apreciando a paz, a tranquilidade e o mugido da vaquinha que morava logo atrás do chalezinho!
Se você acha que essa é a parte mais congelante da aventura, se enganou! Finalmente, no dia 05/06 chega o meu aniversário, e não poderia deixar ser um dia normal!
Fui a um bar localizado na rodovia estadual 466, que tem a temperatura interna, com nada mais, nada menos que -20º, no qual eu tinha reservas para encarar pela primeira vez na minha vida temperaturas negativas! 27 anos concluídos com sucesso! Let it go!
Em meio a maior pandemia que presenciei consegui ter um dos melhores aniversários da minha vida. Todas as dificuldades, desafios e esforços para se manter sempre distante das pessoas e manter um alto nível de higiene com pouca estrutura que uma viagem de moto proporciona, intensificam o sentido e a experiência de sairmos da nossa zona de conforto e vivermos cada segundo como se fosse o último (claro que tomando todos os cuidados para não ser), pois não sabemos o que será do amanhã.
Sair da zona de conforto e se arriscar pode ser o caminho mais amedrontador, mas se tiver medo, vai com medo mesmo! Quando você cruzar a linha de chegada, vai ver o quão forte é, com todas as superações (por mais que pareçam simples e bobas para outros, o objetivo é ser melhor do que ontem e não melhor do que os outros), conquistas e histórias que terá no caminho e a recompensa final é a experiência de ter vivido tudo isso que só você viveu e são essas aventuras que escrevem o livro da sua vida.
Você acabou de ler a página 27 da minha história. Quantas páginas será que terá esse livro?