Mães, e o porquê ‘maternidade’ também é sobre você
Quando eu me tornei mãe eu não me tornei eu; eu me tornei um algo anterior, ancestral.
E eu aprendi na prática que é difícil inovar um conceito – ainda que seja sobre você e sua história – quando todo mundo julga saber tanto a respeito do que ele é. E ainda mais quando o conceito é: maternidade.
É tanta referência de roteiro que fica difícil ser alguém na personagem. E claro, na mudança o instinto comum é o medo, porque vai saber onde a gente tá pisando quando o território não é conhecido. E convenhamos mudar a personagem da Mãe de lugar (dois dedinhos que o sejam): move toda a construção que temos de nós mesmos enquanto civilização. Oito pontos na escala Richter, vai por mim.
O problema em eu me tornar mãe – solteira, na faculdade, sem dinheiro, etc – nunca foi sobre mim, foi sobre cada pessoa que se aproximou da minha aventura de ser mãe já cheio de expectativas. Que me via com as lentes das suas próprias experiências, angústias, alegrias, gatilhos, sentindo o gosto daquele prato favorito, aquela surra, aquele cafuné sob o sol da tarde, aquela velha frase que agora era mandamento, vendo os olhos daquela mulher para quem todo mundo retorna, pelo menos na memória ou na imaginação para algum lugar.
Bem, essa mãe da cabeça de todo mundo não sou eu.
E eu acredito que todas as mães são mais do que o que puderam e podem ser.
E que, por mais que romantizem, nem mesmo a relação de nós, mães com nossos filhos, pôde ser realmente explorada. Não com o tanto de roupa e comida e tarefas e responsabilidades que a gente tem na nossa conta.
Maternar é uma guerra pra se manter de pé, veja os números.
E se você quer entender essa guerra eu tenho uma história para contar.
Thaiz Leão, autora de O Exército de uma mulher só e designer, artista visual, mulher, mãe, ativista social e muitas outras tretas. É fundadora e diretora executiva do Instituto Casa Mãe, autora da Mãe Solo e coautora do Vicente de 4 anos.