A Estrada para Woodstock: um livro para aniquilar estereótipos
Leia este texto ouvindo a playlist que preparei para você!
Eis um livro para aniquilar aqueles estereótipos vulgares quando o assunto é o tal do rolê hippie. Vagabundos, preguiçosos, acomodados... Esqueça tudo isso e mergulhe no fantástico livro A estrada para Woodstock, de Michael Lang, o idealizador e realizador do festival de Woodstock, no distante ano de 1969. Mil desculpas por contrariar o seu firme veredicto, mas esses hippies eram agilizados e visionários. O Michael Lang, em especial, é um sujeito faca nos dentes e sanguenozóio. Num trecho do livro, ele diz: “Eu acordava de manhã e havia 150 coisas impossíveis para executar naquele dia. Eu as resolvia uma por uma, e então acordava no dia seguinte e começava tudo de novo”. A parada que ele fez, sem precedentes e, portanto, sem referencial técnico, é algo surreal.
Além das óbvias histórias de drogas e rock and roll (afinal, estamos falando de Woodstock e não de um desfile de 7 de setembro), o que mais me chamou a atenção foram os relatos impressionantes sobre a organização e a produção do evento. O preço do pioneirismo é sentido no acúmulo de rasteiras que tomaram, muitas aos 45 do segundo tempo, quando um plano B era praticamente inviável. Mesmo assim, entre erros e acertos, Lang foi lá e fez! E todas essas histórias apaixonantes estão no livro que tive a honra de editar para a Editora Belas Letras.
A obra mescla a memória e a voz do criador/autor com bastante história oral, por meio de depoimentos de pessoas que trabalharam no festival, de bandas que tocaram por lá, de figuras marcantes da contracultura (como Abbie Hoffman, que se suicidou em 1989, mas quase morreu no festival, ao receber uma violenta guitarrada na cabeça, cortesia de Pete Townshend), de jornalistas importantes como Greil Marcus e até mesmo de ilustres desconhecidos que estiveram nas terras de Max Yasgur e viram de perto esse evento emblemático. Sem dar spoiler, mas adiantando uma passagem incrível, um dos causos mais legais é justamente de um trio de amigos que chegou de maneira triunfal no festival, estabelecendo um novo paradigma para o termo “penetra”. Quando chegar nessa parte, você me diz o que achou, combinado?
Além de visionário e realizador, Michael Lang também se revelou um grande contador de histórias. Trata-se de um livro delicioso, recheado com a visão privilegiada de quem estava na linha de frente. Uma verdadeira credencial para os bastidores. Aproveite!
Marcelo Viegas
Editor de livros, skatista e vocalista de banda indie.